quinta-feira, 29 de abril de 2010

AS ORIGENS DA GLOBALIZAÇÃO.


Texto do Professor João Luís de Almeida Machado, publicado no blog Escolhendo a Pílula Vermelha.

O fenômeno da globalização é pensado como produto de nosso tempo. Este acontecimento se relaciona, na idéias de muitos, como resultado do mundo que surgiu depois da Queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria, das animosidades entre capitalismo e socialismo, do embate entre os Estados Unidos e a finada União Soviética. Será mesmo?
Há certamente, correntes discordantes (entre os quais me incluo), que procuram perceber tal fato, logicamente diferenciado do movimento atual por características e circunstâncias técnicas e contextuais, como tendo surgido em diferentes períodos da história. A mais corrente defesa entre estes grupos relaciona-se a idéia da expansão marítima européia dos séculos XV e XVI, que levou os europeus a Índia e ao oriente pela rota africana e os trouxe as Américas, como o movimento que desencadeou a onda globalizadora, aprofundada algum tempo depois pelas conquistas e necessidades do capitalismo industrial.
Prefiro olhar mais para trás no tempo e no espaço e vislumbrar na Antiguidade Clássica, com os gregos em duas fases de sua história, com a Magna Grécia se constituindo com o surgimento de cidades fundadas por gregos em diferentes partes dos continentes europeu, africano e asiático e, posteriormente com o período de expansão comandado por Alexandre Magno, que levou a cultura helênica até a Índia, passando por todo o Oriente Médio a incorporar/agregar parte de suas riquezas culturais e materiais, como um primeiro grande surto globalizante da humanidade.
No caso de Roma, sua expansão territorial notável, durante o Império, levou as fronteiras dos césares aos extremos da Europa, da Inglaterra ao norte da África, de Portugal a Germânia, entrando e dominando também as terras do Oriente Médio. Romanizaram, ou seja, impuseram sua cultura e fizeram prevalecer suas práticas e valores, mas também incorporaram produtos, idéias, hábitos e fragmentos da cultura de seus oponentes. Talvez nem esses, pensem alguns, jogando um pouco mais para trás, com egípcios, persas, fenícios ou babilônios, por exemplo. Ainda prefiro dar o crédito para gregos e romanos.
De qualquer modo, o que podemos constatar é que a globalização é anterior ao momento atual e, mesmo em períodos da história desconsiderados como contextos nos quais tal fato poderia estar acontecendo há personagens e fatos que parecem contrariar esta linha de pensamento. Pensemos na Idade Média, chamada por alguns historiadores de Idade das Trevas, os mil anos de dormência nos quais mergulhou a Europa. Pois é neste contexto que ocorrem as Cruzadas e das cruzadas, surgem os Renascimentos Comercial e Urbano, há pessoas, produtos e idéias circulando, criando as bases para a Modernidade.
Durante a Idade Média, personagens como Marco Polo, o aventureiro veneziano que saiu da Itália e tomou o rumo do oriente, recriando a imagem das cidades com telhados de ouro que existiriam na Índia, China e Japão, e o filósofo e teólogo, elevado a santo da Igreja Católica, Tomás de Aquino, italiano nascido em Nápoles, que estudou teologia na Universidade de Colônia (Alemanha) e filosofia na Universidade de Paris, onde se tornou professor nas duas cadeiras, seriam ou não exemplos destes homens globalizados que superaram fronteiras e conheceram o mundo?
É fato, também, que a dinamização da economia ocorrida a partir do advento do industrialismo, nos séculos XVIII e XIX, proporcionou o surgimento de uma nova ordem mundial, na qual as inovações nas áreas de transporte e comunicação, ano após ano, década após década, construíram uma realidade na qual os homens cada vez mais podem e conseguem estar em diferentes lugares, seja por obra da telefonia, da internet ou de aviões, trens e automóveis, deslocando-se continuamente, de forma presencial ou a distância, a outros universos, diferentes daqueles de sua origem.
De qualquer modo, a globalização, como a concebemos e entendemos nos dias de hoje, ainda que suas origens históricas possam ser discutidas, é fenômeno diferenciado dos demais períodos e eventos mencionados por conta das possibilidades da tecnologia, dos interesses em discussão (sejam eles corporativos, governamentais, relacionados a projetos de ONGs ou mesmo individuais) e do mercado, ávido por novos negócios, investimentos, vendas, ganhos...
Nesse contexto, os peões que são movimentados no tabuleiro da globalização, sejam soldados ou oficiais graduados, que assumem causas, bandeiras, negociações, ideologias e tantas outros fatores que lhes fazem viajar constantemente, estão vivendo dentro de um contexto em que o ser humano parece ter se multiplicado para que todas as finalidades e objetivos aos quais está relacionado sejam atingidos. Seja, neste sentido, o preço qual for, o importante é que o mundo ficou plano, as distâncias praticamente desapareceram, os homens viraram (definitivamente) caixeiros-viajantes (expressão que as novas gerações provavelmente desconhecem) e tudo, por fim, parece ter se tornado secundário se comparado aos interesses que movem, na velocidade da luz, os negócios a serem fechados (mas isso é assunto para outras linhas).

2 comentários:

  1. Muito bom seu texto. Havia terminado de ensinar os períodos da primeira fase da filosofia grega na aulas de filosofia, agora nas aulas de sociologia (sequencia) tenho que abordar globalização. Seu texto está perfeito para o que desenvolver em sala. Tomei a liberdade de copiado, fazer pequeninos corte - só nas suas fals pessoais e vou entregá-los aos alunos citando a fonte. Obrigada pela ajuda!
    Parabéns pela lucidez!
    Maria de Fátima Farias
    professora de Sociologia e filosofia ensino médio

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  2. Olá Professora Maria de Fátima,
    como dito antes de publicar o texto, esse artigo é de autoria do Professor João Luís de Almeida Machado, que edita o Blog citado acima, "Escolhendo a Pílula Vermelha". Ele com certeza ficará satisfeto pelo seu comentário e pela utilização do texto nas suas aulas.

    Grato por navegar aqui no meu blog.

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